
A escrita como oficio e exteriorização racional de emoções, para além de recente, tem se revelando um alento e um porto de um desassossegado sossego. Todavia, o entendimento comum e próprio concebe a escrita não como realmente é, um termo de um conceito abstracto condicionado por outro universo, este, a criatividade. Isto é, não seria de todo normal, hoje, em pleno séc.XXI, criar neste instante um heterónimo, quando Pessoa já o fez cem anos antes de forma exímia, ou tão pouco criar uma epopeia, nem secundaria como os Lusíadas de Camões nem tão pouco de primeira ordem como a Ilíada de Homero, entre outras suas congéneres. Em todo o caso, efectivamente, utilizo a escrita como trilho e via para alcançar o auto-conhecimento, apesar de com esta racionalização desprovida de realidade e de subjectivismos criar um afastamento entre mim e mim próprio, executado como uma estranho. Dito isto, não espero que seja reconhecida alguma existência de algo mais sentido, profundo ou espiritualmente sincero na minha escrita, pois essa existência é inexistente, apenas espero que seja reconhecida uma mera tentativa de elevação racional em direcção a uma consciência do quotidiano e do ser.
Dezassete anos passados imovelmente, de feitos e conquistas imperceptíveis, de uma personificação de personagem curiosa, simples, simplista, racionalmente simplificadora e incompleta. Parece-me ontem o dia de hoje, em que ainda sonho com os mesmos sonhos de ontem. Sorrio hoje como ontem pois enquanto sentir o "dia" de ontem serei hoje feliz ontem, talvez.
Dezassete anos passados de peripécias memoráveis e de tantas outras personagens (que nem tanto o eram). Tudo o que fiz, o que faço, vai passando por olhos de cego. Falta ao mundo apenas uma maquina do tempo, ter a possibilidade de reolhar e reviver hoje imagens e personagens de ontem, de forma a não esquecer que sou hoje uma fracção do que construí ontem.