De súbito

De súbito uma vontade incontrolável e indomável de derramar, na mais vil e desequilibrada forma de expressão, milímetros de grafite que expressem imensidades mínimas que se rebatam como milhares de reflexões que se torcem sobre si mesmas e projectam imagens pouco mais que meros semblantes de verdade.
De uma vontade incontrolável e indomável de imortalizar na escrita e na literatura construções vazias de pensamentos nenhuns, numa velocidade assombrosamente assustadora que trespassa o silencio dos que nada dizem. Esses, ah!, senhores do tempo, progenitores de brinquedos oscilantes e pendulares, monumentos incorpóreos e inexistentes de uma magistral prisão! Tempo! Sim, esse, monstro consumidor de partículas silenciosas; monstro construtor de épocas fingidas e de protótipos equidistantes de cada coisa e de coisa nenhuma em concreto. Ambiguidade própria de tal nome.
Enfim, curioso este ínfimo instante no qual a imaginação libertou algo que não saberei adjectivar e assim a tenho divagada em pequenos traços de mundo enquanto passa e esmorece esbatendo-se por tão pouco, diria ainda, pouquíssimo.

Ah! Foi-se.
De resto, adeus!


wilson figueiredo.

A palavra

A palavra não contem "toda a possibilidade do dizer e do pensar"*. Universos utópicos, conceitos  incorpóreos que sobrelevam o consciente e a consciência. No limite, adjectivações periféricas da realidade e da realização do ser e do estar são tudo o que a palavra alcança. O restante é nada no pensamento, o vácuo onde tudo termina e nada acaba. Incrivelmente, existem peças do ser que excedem o entendimento convencional. Genialidades díspares e racionalizações contraditórias. E as suas congéneres, essas, são também elas dramatizações hiperbólicas e falácias voluptuosas. A palavra em si é apenas isso, um código humano, um jogo sóbrio e meticuloso de combinatória criado para transfigurar e conduzir o pensamento tornando-o no que ele é! Pois em tempos longínquos, em meados da era cenozóica, nos primórdios humanos nos quais a palavra era apenas dita e não escrita, como pensaria um surdo, que nascera surdo à nascença?** 
[...]

Em todo o caso, não questiono a sua importância. Recito a sua incoerência.

wilson figueiredo.

* - Fernando Pessoa
** - (Pensamos sobre a forma de palavras). Aceitam-se teses.

Nada [...] adeus

Nada tão arquétipo e simbólico como um benevolente adeus. Uma despedida levianamente descuidada. Um descuido transfigurado em exíguos oxímoros incongruentes.

Um sujeito arquitectónicamente surreal. Pesadamente perdido. Pesadamente subvalorizado. Ei-lo misterioso, ousador de vitupérios mundanos. Ousado ao vituperar a tua indómita razão.

Valor?! [...]


 wilson figueiredo. 

Se os meus olhos

Se os meus olhos não ardessem era bem capaz de ver para lá do negrume da densidade! As pestanas dilatam como se tudo tivesse escuro, será uma dádiva poder ser cego? É concedido o cargo de não visionamento, não ver para lá do que mais de lógico devíamos ter a "beleza interior". Mas o conceito visual ocupa uma estatura acima da média nos novos tempos que enfrentamos, ou fazemos parte dela ou simplesmente não somos aceites. Acompanhamos a luxúria dos ricos ou ficamos pela modéstia dos pobres.

Como pode uma patética concepção, entre tantas outras, ter tanto significado, como pode uma ilusão conseguir controlar meio mundo?


wilson figueiredo.